Conto - A Lanchonete


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Postando um dos meus primeiros contos já escritos.
Quando releio meus próprios textos não gosto muito... e ainda acho a escrita extremamente imatura, palavras repetidas, parágrafos grandes demais e um sério problema de uma escrita cansativa.

Maaaas... afinal... é só uma historinha...

entãããão...

Divirtam-se.

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A Lanchonete


A estrada se encontrava quase vazia. Apesar da chuva, o carro se encontrava em alta velocidade. Os pára-brisas removiam a água do vidro sem nenhum efeito. A visão do mundo se encontrava distorcida. Uma jovem de longos cabelos castanhos dormia suavemente no banco do passageiro. Não resistira àquelas horas sem nenhuma troca de palavras. O Som da chuva exercia um efeito sonífero nela. Ou talvez fosse apenas mais conveniente dormir.

O rapaz que dirigia apenas observava. Qual seria o objeto de observação seria uma pergunta sem resposta definida. A estrada. Não. Seu olhar parecia perdido no horizonte. De vez em quando se virava e observava sua companheira dormindo, com cabelos que cobriam-lhe parcialmente a face. Pensou em acorda-la, só não sabia o que dizer. A música que tocava no rádio falava alguma coisa sobre amor. Típico. A melodia, no entanto, era suave, quase que falando sozinha. De súbito ele ouviu:

- Quando foi que aconteceu? – A voz rouca e sonolenta encontrava pouco conforto em meio ao silencio cheio de ruídos. Ela passava a mão sobre os olhos lentamente, seguido de um olhar para o horizonte chuvoso.

A resposta mais apropriada seria uma outra pergunta. Mas Paulo nada respondeu. No fundo, sabia. Durante quase toda a viagem, a observava dormindo. Tentava imaginar com o que estaria sonhando. Mentira. Não tentava. Queria ter a curiosidade e o carinho de fazer uma simples indagação como esta, mas já não conseguia.

Meses antes.

No parque o sol brilhava com esplendor. Havia algumas nuvens no céu, crianças brincavam de ver imagens naqueles algodões-doces gigantes no fundo azul sobre suas cabeças. Coisas simples ou fantásticas, elas falavam o que viam. O Jovem casal estava sentado sobre um banco de madeira. Existia uma maravilhosa visão daquele lago em que o sol brincava e os patos nadavam sem nenhuma preocupação. Ele lia um livro. Um romance. Nada muito meloso, mas ainda assim, belo. Ela se encontrava deitada, com a cabeça apoiada em suas pernas, também lendo um livro. Psicologia. Nada técnico, mas ainda assim, interssante. Existia um silencio entre os dois. Ambos, em muitos momentos, pausavam suas leituras a fim de perceber o ambiente (em especial o divertido movimento dos patos na lagoa). No fundo um cachorro latia quase que implorando para que o jovem rapaz lhe lançasse a bola de tênis. Crianças riam, correndo atrás do nada, e ao mesmo tempo, do tudo. Um choro. Ele de vez em quando, movia para baixo o olhar e a admirava.Quase que num impulso, ela, sem saber estar sendo observada, o olhava. O Encontro dos olhares era algo mágico. Palavras não poderiam descrever a sensação vivenciada. Ambos sorriam. Ela lhe desabafava alguma curiosidade ou um novo conhecimento adquirido através de sua leitura. Ele achava graça. Gostava de saber aquelas coisas. Gostava o modo como sua voz soava e seus lábios se mexiam para falar. Gostava de pensar que aquela mulher com jeito de menina era sua. Um beijo. Eles poderiam passar a eternidade assim.

Agora.

O velocímetro acusou uma diminuição de velocidade. Ele olhou para ela e respondeu com uma voz trêmula:

- Eu não sei.

Nada. O silencio se tornou um fardo. Diferente do momento inicial, onde era muito bem vindo. Agora era incômodo porque percebia-se a existência do silêncio, e que este estava, de fato, presente. A Chuva diminuiu. Era possível ver algum tipo aviso em néon piscando fracamente logo adiante. Provavelmente um posto ou lanchonete. Com sorte, os dois. E ao som de gotas de chuva e ruídos estáticos alterou-se a direção do carro.

Sentaram-se numa mesa próxima a uma grande janela de vidro. Pediram o sanduíche da casa. Ela, sem tomates, não gostava da consistência deles. O Silencio se alojou um pouco mais. Agora ao som de xícaras batendo em pires e um noticiário na televisão. Chegaram as bebidas.
- Será que nós fizemos alguma coisa de errado?- Perguntou a moça.

Não. Talvez coisas como aquela simplesmente acontecessem. Começaram a conversar. Os dois sorriram. Estavam falando algo que talvez estivesse preso por muito tempo. Não era ruim. Ao contrário. Parecia aliviar.

Durante anos os dois mantiveram uma relação. Ótima, sem grandes problemas, com muito amor e paixão. Não havia o que reclamar do sexo também. Não que esse relacionamento fosse perfeito, mas isto é mais uma qualidade do que uma desgraça. O problema é que já não existia mais aquela sensação tão presente no começo de tudo, aquele calor, aquele desejo de estar com o outro, de considerar o companheiro a fonte de alegria ou algo vital para a vida. Já não sentiam assim. As vontades eram outras, os desejos eram outros. Criou-se um acordo silencioso e invisível. Mais seguro se manter debaixo de uma máscara. Por não sentir, eu me faço sentir, me obrigo a sentir. Jurariam de pés juntos que ainda sentem a mesma coisa do começo, e que não existia problema algum. Manter-se na ilusão, até acreditar que tal miragem é real. A veracidade do fato não mais se encontrava em primeiro plano.

Era muito mais simples manter as aparências. Conversando perceberam seus medos. Passaram anos de suas vidas juntas. Aniversários. Festas. Parques. Visitas. Tudo. Se não estivessem juntos, seria porque algum tipo de força maior impediu aquilo. Chegou um momento em que não se queria mais dizer sim a tudo, porque o que se quer não é o tudo. Um vai querer observar a cachoeira, o outro, a árvore. Percebe-se que o outro tem lacunas, e que de fato elas sempre existiram, o que ocorre é a criação de idealizações que preencham esses espaços. Idealização gera a decepção. E a sensação de frustração dói. Muito.

“Mas não acho que esse seja o problema”, disse Paulo com a mão no queixo. Talvez. Mas o não houve o reconhecimento dessas frustrações. O problema era em si. O outro não pode ser feliz sem o “eu”.

Durante muito tempo, Carla queria conhecer a Europa. Houve então uma oportunidade. Durante um período de férias, poderia ficar lá hospedada na casa de uma amiga, e adquirir uma passagem por um preço acessível. Ficou eufórica. Treinou o inglês e comprou um guia de pontos turísticos europeus. Mas na hora de conceder a resposta final, não sabia o que fazer. Pensou em Paulo. Como poderia passar meses longe dele? Isso era impossível. Falavam-se todos os dias. Para quem iria ligar quando estivesse mal? Algo poderia acontecer. Quem vai dar afago e carinho quando se necessitar de um? Ela poderia usar um abraço naquele momento mesmo. Pensou. Teve vontade de chorar quando confirmou o pedido e comprou a passagem. Parecia que ela ia perder alguém querido para sempre. Viajou. Sentiu-se mais feliz do que nunca.Viu a amiga e conheceu pessoas novas, lugares novos, e redescobriu coisas em si que talvez nunca aprendesse sem aquela viagem. Percebeu que poderia ser feliz mesmo sem o Paulo. Ele não gostou. Como ela podia estar feliz? ELE deveria ser a fonte de felicidade. Ele não falava muito ao telefone, porque ela queria contar muitas coisas, e queria que ele partilhasse dessa alegria. Sentia-se traído, mesmo sem saber disso, e sentia-se mal por não estar sendo quem ele deveria ser. Ela deveria estar do lado dele. Retorno da viagem. A felicidade do encontro não durou muito. A Torre Eiffel e o Big Ben não tiveram muito espaço. Jurou que nunca mais viajaria. E ambos vestiram suas máscaras. Que alivio. Tão reconfortante quanto esmagar a cabeça sobre uma rocha.

Chegaram os lanches. Estavam se sentindo bem, apesar do delicado assunto. Não sentiam aquele instante como algo intimidador. Estavam terminando tudo?

- Acho que não deu certo, mas não podemos dizer que não tentamos – disse Carla com um sorriso meigo no rosto, o que gerou em Paulo uma vontade de sorrir também.
Aquela viagem era uma visita a alguns familiares de Paulo no interior. Carla possuía algumas amigas, e queria estar com elas no feriado, mas seria conveniente se ela comparecesse na casa dos parentes dele. Basicamente estava por obrigação, mas não se dava a oportunidade nem de sentir isso. Ele também já não sabia se queria aquela companhia para a viagem, mas também se auto-alienava. Ambos haviam esquecido do valor de um sentimento. E naquele momento pareciam renascer.

- E o que nós passamos? Será que desperdiçamos todos esses anos, podendo passar este com outras pessoas? – Paulo parecia estar relembrando de momentos dos quais havia desejado não estar com ela.

Ela olhou para ele com um olhar carinhoso.

Aquilo que nós somos agora é o resultado de tudo que aprendemos, em todas as situações. A viagem, as brigas, as paixões, os erros, os perdões. Tudo contribuíra para que chegassem onde estavam. O segundo a mais que o relógio marca não é um segundo a menos em nossas vidas, é um instante em que aprendemos mais, nós tornamos mais parecidos com o que somos.

-Não... se não, não estaríamos nessa madrugada conversando sobre nosso relacionamento e percebendo tantas coisas.

-Andou lendo livros de auto-ajuda? – perguntou o jovem com vontade de rir. Ela nem se incomodou em retrucar, uma vez que este sabia sua repugnância por esse tipo de literatura. Estirou-lhe a língua, num gesto infantil e meigo.

Silencio novamente. Conta. Pagamento. Carro.

Chegaram ao hotel na beira da estrada que haviam planejado ficar. Falaram simultaneamente. Paulo pediu um quarto de casal, enquanto Carla pediu dois quartos. Choque. No terraço que dava para os quartos ela diz:

- Eu te amo. Muito. Passei talvez os melhores anos da minha vida com você. Não vou me esquecer de nada. Só que nós dois queremos alguém. E nós não somos esse alguém que agente tanto quer. Eu vou ficar em outro quarto. Amanhã só o tempo irá dizer, mas muito, muito obrigada.

Seus rostos se aproximaram. Ela levantou a cabeça e beijou-o na testa. Máximo sinal de respeito, somente em pessoas extremamente queridas. Transmitia o amor, o carinho.

Paulo sorriu. Observou ela subir as escadas e permaneceu parado por algum tempo. Sentia-se melhor, mais confiante, mas cheio de si. Com medo, porque não sabia ao certo o que aconteceria, mas ficou feliz por ter conhecido aquela garota chamada Carla.


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Eu

  • Um sujeito simples. Composto por vários apostos. Único.
  • Qualquer que seja a sua visão sobre mim não reflete na verdade quem eu sou. Será apenas mais um ponto de vista.

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