Meus Demônios


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Escrevo para espantar meus demônios. Eu falo para exorcizar meus demônios.

E quantos são meus daemons? São muitos.

Trecho de Hobbes, O Leviatã, Cap. XIII

“ [sobre a competição, a desconfiança e a glória] A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defendê-los; e os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome. (Hobbes, 1983, p. 75) ”

Interessante que isso foi escrito no início do século XVII, mas aparenta ser mais natural do que nunca no mundo contemporâneo.

O ser humano deseja glória (ou reconhecimento, que não passa uma suavização deste vocábulo). Mas mais do que isso. A ânsia de glória de todos nós se dá basicamente através da comparação. Não basta que eu tire um 10 na prova, necessito que outros estejam em uma posição inferior para que eu sinta o gozo da vitória, porque se todos tiram 10, o que há de especial nisso? Eu fico feliz com a vitória do meu próximo num âmbito social, mas pessoalmente, eu almejo aquela felicidade para mim.

Não existe glorificado sem aqueles que cantem as vitórias do outro. Eu necessito do outro para que este me erga ao mais elevado posto. Para que eu possa ser endeusado, para que eu seja visto como o MAIS, o melhor: O engraçado, o bravo, o guerreiro, o misericordioso, o sábio, o honesto, entre todas as virtudes.

Mas onde entram os meus demônios? Em todo o instante.

Eu gosto de atenção. E onde melhor do que o mundo contemporâneo para que eu me sinta especial? Mas não quero cair num moralismo barato (o fato de você se incomodar com que eu escrevo não significa que estou sendo moralista, mas sim que você detesta algo em você mesmo, mesmo que jogue a culpa em mim).

Então estamos na sociedade Vouyer. A cada segundo, centenas de pessoas bisbilhotam a vida alheia. Algumas hipóteses para isso, mas de fato, creio que o grande vazio no sentido da vida, e a necessidade de comparar-me ao outro seja a maior questão no caso. Não são todos os casos, obviamente. Não me sinto tão mal ao ver que o meu fim de semana foi horrível e o do outro também, sinto-me deprimido quando somente eu tive um péssimo fim de semana. O outro influencia diretamente na minha felicidade.

Mas existe uma outra coisa. A culpa (se é que existe culpa) não é inteiramente dos Vouyers, porque EU necessito dizer a todos como eu sou feliz, como eu tenho centenas de milhares de amigos, que posso contar com todos eles o tempo todo, como tudo é lindo e maravilhoso e se me perguntam “como vai?” eu respondo “tudo bem”, mesmo quando não está; como minha vida é agitada e como eu sou popular; olhe para mim, eu sigo valores milenares, pratico a justiça e sou alguém de bem.

Nos tornamos produtos de nós mesmos. Vendemos o que queremos. Somos alérgicos a dor (você esta mal? Vai passar. – você ainda está mal por causa daquilo?!?! Desencana, segue em frente!)

Esse vazio existencial absurdo encontra o seu ponto de fuga na imagem.
Exemplo:

Zé e João e Maria saem para almoçar. O almoço é bem divertido. Eles sabem que foi divertido. Ao chegar em suas respectivas casas, enviam mensagens no Orkut dos outros algo como: “Foi muito legal o nosso almoço! Demos muitas risadas! (as vezes aqui se encaixa algum tipo de comentário interno também). Precisamos repetir mais vezes! Bjus!”. Eles já sabiam que foi divertido e já haviam conversado que precisavam marcar mais encontros! Mas os outros 500 amigos do Orkut não iriam ficar sabendo como sua vida é divertida. E enganar a si mesmo é alimentar uma ilusão deliciosa de se experimentar.


É inevitável que alguns seres, dotados de um QI equivalente a de uma porta, digam “Então sai do Orkut”. Não compreenderam que uma reflexão e uma crítica não significam extinguir o fato, mas uma necessidade de reavaliá-lo.

A radiação constrói bombas poderosíssimas, mas pode salvar vidas. A questão não seria abolir a radiação, mas compreender como manuseá-la.

Onde entram os meus demônios? Aqui.

Eu deleto scraps do Orkut. Não saí dele, porque em muitas coisas ele me fornece uma praticidade absurda, em troca pede a minha alma, que eu diga quem sou e o que eu faço. Eu barganhei. Ninguém vai saber o que eu fiz ou deixei de fazer. Mas assum uma coisa: minhas causas vão além da questão da privacidade.

Esse meu demônio é o meu ego inflado. Não só uma questão de privacidade eu GOSTO que os outros saibam quando meu fim de semana foi fantástico, quando eu saí com ótimos amigos, que uma porrada de gente me diz que me ama diariamente. Eu gosto que me vejam como alguém “foda”. E esse meu orgulho me mata.

Eu deleto os scraps não só por privacidade, mas porque eu SEI que eu GOSTO que leiam os meus scraps (antes de comentar sobre isso, cuidado para não se tornar hipócrita).

Não é uma questão de repressão. Se eu fumo e quero parar, eu evito lugares que as pessoas fumem. Considere o mecanismo de fuga e esquiva se quiser. Reprimir o desejo seria ir para os locais que as pessoas fumam e lá eu ficar “não vou fumar, não vou fumar”.

Outro demônio:

Eu parei de dizer as minhas notas. As provas em si não avaliam quase nada. Posso tirar 9 e não saber de quase nada e posso tirar 3 e saber de toda a matéria. Mas eu sempre tento ser o melhor, não muito numa questão de esforço, mas num âmbito de intenção. Então a nota é minha, e tento elaborar a minha nota. Não faço questão saber as notas dos outros, nem quero virar alvo de comparações. Dessa forma, eu me sinto muito mais livre para celebrar junto com alguém que foi bem, e ajudar um outro que não foi, do que entrar em valores do tipo “sou melhor que...” ou “sou pior que...”.

“Mas você escreve no blog, não seria hipócrita? Afinal todos lêem...”.

Compreendo a indagação acima, mas discordo. Quando eu crio consciência de um determinado fenômeno, e cheguei à sua essência através da reflexão, eu posso executar ações similares sem as mesmas intenções.

Aqui eu exorcizo meus demônios internos, eu me autopreservo. Através de textos densos ou através do humor.

Ainda assim, haverá quem me chame de hipócrita.O problema, no entanto, não é meu se rolou uma identificação sua.

“Mas você fica se explicando...”.

Um hábito que eu pretendo parar. Exatamente ao que acontece quando ficam sabendo que eu não como carne. Entra-se numa discussão ridícula. Uns dizendo que os animais nasceram pra isso mesmo e agente pode matar a vontade. Outros concordam com algumas idéias, mas dizem que não conseguem parar de comer carne. Outros me chamam de idiota porque esse meu “movimento” não vai afetar em nada os maus tratos aos animais.

De qualquer forma, o fim é previsível, e é, no mínimo, cansativo.

Preciso aprender a ser auto-suficiente do ponto de vista das idéias. Simplesmente falar que eu não compro carne (foda-se o que pensem), simplesmente dizer que eu apago scraps (foda-se o modismo e os conceitos que tentam definir essa ação) e que eu não quero dizer a nota (foda-se se parecer arrogante).

Mas isso é coisa para se pensar em um outro dia.

E não se sentir compreendido é MUITO desesperador.

Então aqui eu exorcizo meus demônios.

OS: Texto cru, não foi revisado, escrito e vomitado de uma só vez para não se perder o fio da meada. Erros de português e de concordância provavelmente foram encontrados, depois eu elaboro melhor o texto e idéia.

Obrigado.


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Eu

  • Um sujeito simples. Composto por vários apostos. Único.
  • Qualquer que seja a sua visão sobre mim não reflete na verdade quem eu sou. Será apenas mais um ponto de vista.

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