A culpa não foi toda do cigarro. A culpa é desse tempo de merda que fica mudando a cada hora. Tudo bem que a parte que eu estou tossindo meu próprio sangue não tem a ver com as alterações climáticas, mas cuspir sangue e ter um congestionamento nasal é horrível.
Começou cerca de 3 dias atrás. Uma tosse seca, chata, arranhando minha garganta incessantemente, começou a piorar. Meu auto-diagnóstico estava tão limitado quanto uma conversa de elevador: o clima era o único assunto. “Em dois dias passa, é o inverno chegando” pensei. Grande engano.
Observo o ambiente ao meu redor. Minha casa está um caos, tem um clima triste, mórbido. Até parece que alguém vai morrer. Irônico. Ao observar o espelho, tenho a impressão de que consigo enxergar o desespero. Posso sentir as suas mãos gordas, seu cheiro pútrido e sua pele pegajosa tocando o meu peito, me tirando todo o ar. Molho o rosto. Do meu lado eu praticamente vejo aquele rosto desdentado, com apenas uma imensidão negra onde deveriam estar as órbitas dos olhos. Velho escroto, Cai fora. O legal é que realmente ele sai. Mas uma gosma cheia de catarro, sangue e mais uma porrada de coisa que eu nem quero saber o que é saiu da minha boca. Acho que deveria visitar um médico.
Ninguém sabe de nada. Não quero piedade dos outros, mas assumo que um pouco de colo agora ia bem. Vou dar uma volta, respirar um pouco de ar puro, assim que eu achar os meus cigarros.

Texto criado a partir de uma tosse chata que está me enchendo o saco. Um pouco de tragédia e... tcharam!