Amor Liquido


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Pensando bastante nessa questão do que é o amor, ou qual a concepção que se possui deste atualmente no mundo pós moderno. Observando a retomada do romantismo, uma ação de esquiva e fuga, talvez.

Nos encontramos perdidos em meio a relacionamentos muito frágeis, muito rápidos. Sinto uma imensa necessidade de descobrir o que significa isso do ponto de vista crítico de uma sociedade, e compreender o que isso diz dos jovens. Decifrar essa transformação do “eu” em objeto de prazer. Ao se coisificar, as pessoas se esquecem que possuem ânsias, desejos e vontades, mas executam uma ação de negar, ainda que talvez momentaneamente, a sua humanidade.

Estes, em suas relações frágeis, ambíguas e caóticas, encontram um prazer específico, mas que difere do prazer requerido pelas angústias do self. Através de um relacionamento mais rápido, de um sexo casual (erroneamente chamado de “fazer amor”), é adquirido prazeres que na verdade vão substituir e camuflar necessidades que poderiam chamar-se ou serem considerados verdadeiras. Mas eu não percebo em sua plenitude (voluntariamente ou não) as necessidades gritantes em meu interior, ou não me sinto capaz ou merecedor das recompensas que saciariam completamente o desprazer que em mim se encontra.

Ao se conhecer um tipo específico de relação, pode-se facilmente manter-se somente neste tipo de laço afetivo. Este, não precisa ser necessariamente bom, mas o conhecimento prévio da relação permite-se conhecer a existência de algum prazer, ainda que possa vir a ser mínimo ou completamente diferente do que eu desejaria. O ciclo que é gerado por esses laços gera, portanto, uma frustração eterna, ao invés da felicidade utópica a qual acreditamos estar alcançando.

Uma imagem que talvez consiga representar a situação até aqui transcrita seria um quebra-cabeças que em sua maioria está montado, mas possui alguns vazios em meio a imagem que deveria estar se formando. Essas peças específicas que faltam variam de formato cor e desenho para cada pessoa.

Com um mínimo de reflexão é fácil perceber a ausência de algumas peças em nosso ser. Existe toda uma série de indícios nos comportamentos que nos indica essa incompleticidade, e a angustia gerada na psiquê, como por exemplo atitudes, momentos ou pensamentos irritadiços, melancólicos, insaciáveis ou angustiantes. O que falta para a verdadeira compreensão do problema é perceber algumas especificidades desses buracos, questins-los, como: que formato possui? A ausência da reflexão, que indicaria melhores aspectos da peça de quebra-cabeças ausente, nos leva a preencher de forma errônea o espaço vazio. Temporariamente o buraco será preenchido, mas nunca se encaixará perfeitamente, algo que levará obrigatoriamente a um aumento do nível de tensão.

Não quero aqui negar a existência do prazer nas mais diversas situações, mas facilmente se percebe que não é a peça requerida que deveria-se tentar encaixar nos aspectos afetivo-relacionais do ser. Força-se uma correlação entre o meu desejo, a busca do prazer e o gozo que obtive. Descarta-se a peça. Frustração, raiva, angústia. O movimento mais interessante é: No momento que se percebe mais uma vez o vazio do nosso puzzle interno, acaba-se por reutilizar a mesma peça que outrora já utilizamos, e que já sabemos que não saciará a minha frustração, mas, as pessoas aprendem a sobreviver (porque se torna um vício, que impede a espontaneidade e a vida) com prazeres ínfimos para aquela situação que se encontram.
“Em vez de haver mais pessoas atingindo mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados.” (Bauman, Amor Líquido, 2004)

O que faz com que as pessoas se comportem deste jeito? Porque essa incapacidade de manter laços a longo prazo? Essa convivência em redes extremamente frágeis do mundo pós moderno abre as portas para a uma solidão e uma angústia como nunca foi vista na história do homem.
A angustia no homem, é um fato. Não se deve porém ter essa visão do inconsciente como um inimigo, mas percebendo nele a nossa imensa capacidade de nos enganar.

A família, base da estrutura do coletivo, da civilização, também se encontra desamparada por esse comportamento volátil, por esses amores curtos, por uma ausência da verdadeira concepção de amor (que é definida para uma grande maioria através da Mass-Media), e gera nos jovens uma tremenda ruptura afetiva que, por final, distorce todos os seus vínculos. Entra-se numa crise afetivo-relacional em níveis assustadores.

Vivemos numa orgia urbana. Geram-se pessoas-objeto. Esses objetos sexuais de prazer (onde eu encontro prazer comigo mesmo e no outro), trazem em sua transformação uma decepção, pois eu, humano, reduzo minha angústia ao prazer erótico. Um ser objeto não é um ser humano. Nega-se a humanidade. Nego minhas peculiaridades, que me tornam tão único em meio a bilhões de seres humanos. Os gostos são esquecidos, tanto os meus quanto os do outro. Precisa-se arduamente construir uma gigantesca intimidade para de descobrir preferências de cores ou filme, por exemplo. A lembrança por parte do outro de algo que eu gosto de algo é uma raridade muito bem vinda na sociedade em que o afeto se congelou e se derreteu. Se tornou líquido. Eu-objeto esqueço que sofro, que tenho alegrias, que amo, que entro em desespero, que quero carinho, colo, que gosto mais de um certo tipo de filme ou sou um fã incondicional de uma certa banda.

O choque de imagens é inevitável. Eu acredito ser alguém, ajo como outra e desejo ser uma terceira. Uma identidade em crise se forma. As pessoas se consideram românticas, vivem numa completa apatia afetiva e desejam aprender a amar e ser amado.


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Eu

  • Um sujeito simples. Composto por vários apostos. Único.
  • Qualquer que seja a sua visão sobre mim não reflete na verdade quem eu sou. Será apenas mais um ponto de vista.

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