Alice e as Flores


E-mail this post



Remember me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.com. More...



Alice possuía um único, pequeno, vaso. Em seu vaso havia uma pequena flor que crescera diante de um enorme carinho da garota, que a regava diariamente, punha-a ao sol para que se refrescasse e, algumas vezes, conversava com esta. Eram felizes, a flor e Alice, Alice e a flor.

Em suas caminhadas pela cidade Alice adorava passar por parques. Eram cheios de vida, de cheiro, de cor, de enormes diferenças, que em seu caos encontravam harmonia. E em cada cheiro, som e cor Alice se encantava. Como conseqüência de suas preferências Alice conhecia muitas outras flores, mas não podia levá-las para casa, pois havia apenas um vaso, e por motivos de força maior, possuir um segundo vaso era algo impossível.

A garota que amava a natureza então ganhou o hábito de não mais cheirar as flores que não fossem a sua. Não queria que esta se sentisse traída. Por vezes, avistava uma rosa ou jasmim de beleza tão estonteante que pensava em trocá-la por sua rosa, que agora não parecia tão mais bela? Mas fora o tempo que passara ou o olhar que mudou? Com atenção observava todos os aspectos das flores que parecessem mais belas que a sua, e, ao ver qualquer sinal que considerasse um defeito declarava com o peito estufado e em voz alta (provavelmente para que ela mesma acreditasse): “Essa flor não é boa o suficiente para mim. Tem espinhos. Minha flor é muito mais bela e me preenche muito mais do que qualquer uma de vocês”. E corria para longe do jardim.

Alice acreditava que se percebesse as virtudes de uma outra flor trocaria esta pela sua. Não poderia. Não deveria fazer isso com uma flor que há tanto tempo lhe fizera feliz. Permaneceu, portanto, fóbica. Um dia, parou de visitar jardins.

Algum tempo depois, observando o mundo de sua janela, Alice, vagando em pensamentos, não percebera a borboleta que lentamente se aproximava de seu nariz.

- Pequena garota dos olhos grandes, porque não mais nos visita? – Perguntou a borboleta, com uma voz fina, mas que ao mesmo tempo parecia cantar.

- Ó pequena borboleta não quero mais visitá-los, pois existem rosas em meu caminho – respondeu a garota com os olhos estrábicos para tentar observar a borboleta.

- E desde quando rosas são empecilhos? Penso nelas como algo belo. Não cultivas tu uma rosa em tua casa também?

- Mas tuas rosas têm espinhos. - respondeu-lhe.

- Eis que as rosas não são minhas, e a ninguém elas pertencem, se não a todos aqueles que as sentem. E não são os espinhos partes da própria rosa? O que denominas por rosa então? Somente as pétalas, o cheiro ou o que pensas ser belo? Digo-te: Tudo nela é belo, pois se algo lhe faltasse ou talvez lhe excedesse, não seria aquela rosa, única em meio a tantas flores.

- O que fazer em quando uma rosa é mais bela que a minha então? Desejo-a para mim, mas já possuo uma. Devo abrir mão do que já tenho por algo que em algum tempo não irei querer mais?
- A rosa pode ser mais bela que a tua, mas provavelmente não será melhor. Ainda assim, como saber o que é bom ou ruim se tudo o que olhas são pétalas e espinhos?

Antes que Alice pudesse responder a borboleta voou. Talvez tenha dito adeus, mas ela não ouviu.

Demorou algum tempo para que Alice visse as flores como flores. Não eram concorrentes de sua rosa, tampouco a soma de cores, caule, raiz e copa. Simplesmente eram.

E eram felizes. Alice e as flores. As flores e Alice.


0 Responses to “Alice e as Flores”

Leave a Reply

      Convert to boldConvert to italicConvert to link

 


Eu

  • Um sujeito simples. Composto por vários apostos. Único.
  • Qualquer que seja a sua visão sobre mim não reflete na verdade quem eu sou. Será apenas mais um ponto de vista.

Previous posts

Archives

Links




Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com