"Eu não posso tudo isso"


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Post grande e desconexo.

“Você não pode tudo isso”. Minha mente não para de me dizer isso. Provavelmente é verdade. Não posso. Não sou tão bom quanto achei que era. Não sei se chego a ser bom. Quem sou eu, afinal? Não sei. Mas sei que não posso tudo isso.

Não ganhei o concurso de redação. Não fiquei nem entre os 100 melhores. Eu queria muito acreditar que não receberam o meu trabalho, uma vez que não veio nenhuma confirmação de participação, mas não pude: lá estava meu nome – Vinicius Costa Fontes – E não estava na lista dos vencedores. “ Eu não posso tudo isso”.

E a sensação de ter feito o máximo, e esse máximo não ser suficiente? Estou começando a me acostumar com essa idéia. Quando me sinto triste, frustrado, meus melhores posts surgem. Falo coisas que outrora não falaria. Mas, aparentemente, minha concepção de um bom texto não tem a menor importância. A minha opnião nada vale.

Jung diz que a angústia faz o homem crescer, fortalece o ego, desde que o trauma não possua potencia suficiente para desestruturar a psiquê. Eu sei que vou aprender bastante com isso, e que vou sair sendo alguém mais parecido comigo mesmo do que antes desta experiência, mas, ainda assim, elaborar essa angústia é dolorida. Não vou sorrir desesperadamente, tão pouco vou alimentar uma melancolia. O tempo que tiver que durar, que dure, mas que eu elabore de forma saudável a experiência.

“Você não pode tudo isso”. Eu sei. Já ouvi. Pode parar de repetir um pouco. “Você não pode tudo isso”. Minha mente me atormenta.

Não posso mesmo tudo isso. Porque tamanha expectativa? Porquê essa ânsia de reconhecimento?A redação não ganhou, a Fnac ainda não me ligou, e eu não me sinto bom em nada. Para quê estudar tanto? Horas e horas lendo os maiores pensadores, compreendendo suas idéias, dialogando com estes, vivenciando a dor humana e a aceitando esta. No fim, serão formados uma porrada de psicólogos que lêem um capitulo de um livro, fazem uma prova, e se acham pensadores. Eu não sei de nada de psicologia. Ao menos tenho consciência de minha ignorância. Não sou um exímio músico. Sax, gaita, vocal, violão... sempre existe alguém melhor, mais criativo. Eu não quero ser o melhor, quero apenas ser eu mesmo, e isso, com certeza, essa experiência me permitiu dar um passo adiante.

O parágrafo acima pouco tem a ver com o tormento de minha alma, mas foi escrito como uma explosão de idéias que surgem em minha mente. Idéias pra quê? “Você não pode tudo isso”. Eu sei.

Por isso esse blog será deletado em 5 dias. Porquê 5 dias? Assim eu tenho tempo de mudar de idéia, e com certeza, isso é o que eu mais quero. De qualquer forma, ele estará, no mínimo suspenso. Escrever não me atraí tanto agora, nesse instante. A coisa mais infantil a se fazer é dizer “Nunca mais escrevo”. Não é assim. As quero me encontrar um pouco mais. Não é só porque eu me cortei com uma rosa que todos os espinhos são maus. Nesse momento, utilizando a imagem anterior, só incomoda a sensação do sangue escorrendo.

Uma parte de mim, a que se considerava um escritor, adoeceu. Moribunda. Estou louco para cometer a eutanásia.

Freud mesmo foi chutado pela sociedade médica alemã na época. “Você está beeem longe de ser o que um dia Freud foi”. Talvez, mas o que interessa aqui é a imagem.

Queria um cigarro, mas parei de fumar. Minha amidalite incomoda, e eu não consigo parar de pensar sobre ela ser a somatização das coisas que eu nunca disse. Meu dragão está louco para cuspir fogo.Vou meditar um pouco, sempre me ajuda. Inteligência emocional não e o meu forte.

Em qualquer coisa que eu faça, minha mente repete “Você não pode tudo isso”. Eu não quero “poder tudo isso”. Mas aceitar e amar exatamente do jeito que eu faço.

Uma amiga querida passou nesse concurso. Juro que isso me deixa feliz, de coração. Uma parte de mim parece ter ganho também. Imaginar que ela fica mal por perceber que eu estou mal, faz meu superego me martelar. Babaca.

O vazio existencial é, de fato, assustador. Saber que somos livres para ser exatamente o que queremos é assustador. Apenas um aprendiz de pintor aqui, mas a cada instante, descobrindo novas cores em minha palheta.

Segue o texto (perdedor) do concurso de Santos Dumont – 14 bis:
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Uma Carta a Santos Dumont

Prezado Sr. Santos=Dumont,

Escrevo esta carta para lhe relatar os acontecimentos do ultimo século, e, aproveitando a chance, declarar algumas sensações que senti ao ler a sua história.

Comecemos noticiando as guerras. A guerra nunca muda. Após o término da Primeira Guerra Mundial veio uma segunda, cerca de 30 anos depois. Um sujeito de bigode conseguiu convencer muita gente que existe uma raça humana superior, pura. Pessoas convictas carregando armas sempre são perigosas. Muita gente morreu, um número que não ouso dizer, afinal, números não morrem, mas, definitivamente, assombram.

O Brasil nunca existiu sem crises. Houve aqui uma ditadura militar. Ninguém mais era livre para pensar, dizer e gritar o que desejava, mas era observado o tempo todo por olhos invisíveis que engoliam pensadores, como o monstro que vive debaixo da cama de todas as crianças. Do outro lado do mundo, décadas depois, um homem com uma barba enorme declara uma guerra santa. Nada justifica a guerra, mas ela não muda. Dois aviões acertaram propositalmente duas torres enormes nos Estados Unidos. Nas torres haviam diversos humanos, assim como os aviões. Pais, mães, filhos. Por favor, não chore. Sim, foram aviões, mas a questão não é inteiramente esta. Einstein também não imaginava a bomba atômica (acredite, sua capacidade de destruição é enorme) quando transformou paradigmas da física e descobriu a teoria da relatividade.
A questão não é a invenção em si, mas o que fazemos com esta. Às vezes o final nos frustra, mas isso não nos deveria impedir de continuar tentando. Mas, creio que estou sendo redundante ao escrever isso para o homem que parecia estar montando em uma bicicleta quando voava. Caia e se levantava novamente.

Lendo sua história eu me comovi. Como pode alguém ter sido tão altruísta? Percebi-me revendo os meus valores diante de alguém cujo respeito, a ética, a grandeza e o patriotismo eram marcas registradas. Se me perguntassem meses atrás ‘Quem foi Santos Dumont?’ A resposta viria quase que automaticamente ‘o Pai da Aviação’. Nada mais que um título ou um rosto familiar numa cédula de Cr$ 10.000,00 (Dez mil cruzeiros), uma história desconhecida, um descobridor, como qualquer outro, que tem seu nome para sempre ecoado, mas nem sempre compreendido. Em meio ao caos das guerras, observo as pessoas, os humanos em suas diferenças, semelhanças, suas peculiaridades, suas histórias, e é nisso me toca e me inspira a história de pessoas como o senhor.

Desde o início dos tempos o homem sempre teve o desejo de subir aos céus, mas alcançávamos o vôo somente através das asas da imaginação. Criamos histórias, lendas, que nos levaram, por exemplo, à fábula de Dédalo e Ícaro. Julio Verne em sua citação nunca esteve mais correto: “Tudo que uma pessoa pode imaginar, outras podem tornar real”. Em 1906, com o 14 Bis, o homem atingiu os céus com um “objeto mais pesado que o ar”. Como seu corpo. Era mais que uma evolução dos balões. Era uma mudança de paradigmas. Nos tornamos seres voantes, na mente e no corpo.

Não se questiona mais o fato de que o primeiro vôo alcançado foi efetuado pelos irmãos Wright , mas vale lhe contar que em 2003, os americanos, comemorando o centenário da aviação, tomando como referência o alegado vôo, sequer conseguiram elevar do solo a réplica do Flyer. O senhor, assim como o resto do mundo, nunca havia sequer observado os tais experimentos dos irmãos, enquanto o primeiro vôo do 14 Bis foi feito em meio a uma multidão.

O que antes eram traços, esboços, sonhos, expectativas e ilusões de grandes pensadores, o senhor tornou realidade. Como Einstein disse “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original", o senhor era insaciável em suas criações. Estudou desde mecânica à astronomia. Inventou balões, dirigíveis, o 14 bis, o demoiselle, o relógio de pulso dentre tantas outras coisas. Ao perceber, porém, suas invenções sendo deturpadas de suas verdadeiras finalidades, vivenciou o início da queda.

Uma coisa me pareceu interessante ressaltar: O senhor nunca patenteou suas invenções, criava seus projetos e protótipos como um bem para a humanidade. Sonhava além da construção em si e empregava valor simbólico também as suas invenções. Entregava cópias das plantas de seus aviões gratuitamente, afim de que todos pudessem ser beneficiados. Criar e ajudar definitivamente eram o que o senhor fazia de melhor.

Talvez eu me veja capturado pelo sistema capitalista, mas, num mundo onde tantas coisas foram descobertas, e tanto já foi visto, perceber um homem, que fez o impossível e retirou de nós a inveja dos pássaros, agir de modo tão altruísta, me comove e me toca.

Se a guerra nunca muda, as pessoas nunca param de me surpreender. E creio que ninguém me surpreendeu tanto quanto o senhor. Um homem que expressava seus valores até em sua assinatura Santos=Dumont; um homem que sofreu muito ao ver sua criação ser utilizada como uma máquina de morte; um homem que ofereceu o que tinha para que o ajudassem a impedir que utilizassem os aviões nas guerras; um homem que foi preso na França, diante de um extremo caos criado pela Primeira Grande Guerra; um ser que viu suas duas nações banhadas em sangue; um humano que chorou, mas não deixou de sonhar.

O que, para mim, era então um rosto numa cédula de Cr$10.000,00 ou um título como ‘o Pai da Aviação’, se tornou um símbolo, uma história que quero contar a todos. Nunca acreditei em heróis, em seres tão bondosos, encontrados talvez somente nos mitos religiosos. Nunca fiquei tão feliz de estar errado, e de me encontrar com sua história, um exemplo, um humano, que em meio a virtudes e defeitos, sonhou, criou e mudou o mundo, e a isso, eu sou extremamente grato.
Desejoso de haver expressado meus mais altos sentimentos à sua memorável pessoa, despeço-me.

Atenciosamente,

Vinicius Costa Fontes


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Eu

  • Um sujeito simples. Composto por vários apostos. Único.
  • Qualquer que seja a sua visão sobre mim não reflete na verdade quem eu sou. Será apenas mais um ponto de vista.

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